Cultura de Segurança no Setor Portuário.
Desvendando caminhos que conduzirão funcionários a desenvolverem uma mentalidade protetiva e consciente no ambiente de trabalho.
A Cultura de Segurança funciona como um conjunto de padrões de comportamento formados a partir de valores e crenças em que o objetivo é a diminuição dos riscos no ambiente de trabalho. Mais do que isso, cultura de segurança é ter certeza que o trabalhador, mesmo na ausência de uma autoridade, entenda a valia da segurança e aja de acordo com essa percepção.
Quando ouve-se falar do Técnico de Segurança do Trabalho, ou de receber sua visita, colaboradores se dividem em duas reações: o medo da punição ou enfado, pela repetitividade dos assuntos frequentemente abordados.
E é aqui que começamos a identificar a raiz da falta de uma mentalidade coletiva a respeito de Segurança e Saúde do Trabalho: a associação desses termos com punição e obrigatoriedade.
A disciplina na conduta de trabalho e uso correto de EPI’S deveria ser uma virtude consciente nesse processo, de forma que os colaboradores priorizassem sua integridade física. Entretanto, o caminho a percorrer até esse cenário ideal é constituído de muitos quilômetros.
Foi somente em 1986 que esse conceito de cultura foi mencionado em um relatório sobre o acidente de Chernobyl, acentuando os fatores que contribuíram para a tragédia. Segundo Cox & Cox, cultura de segurança reflete as atitudes, crenças, percepções e valores que os funcionários partilham. Entendemos aqui que a necessidade de ser consciente é o que vai converter essas crenças e percepções em hábitos e comportamentos. Como bem acrescenta Glennon,
“São as percepções dos funcionários das muitas características de sua organização que têm um impacto direto sobre o seu comportamento para reduzir ou eliminar o perigo”.
Mas afinal, é possível eliminar o perigo e melhorar a segurança?
Para isso vamos esclarecer a diferença de risco e perigo.
Perigo são condições que, quando não controladas, podem conduzir a eventos prejudiciais à saúde e bem-estar e Risco é a probabilidade da ocorrência de acidentes ou morte pela exposição ao perigo. Então sim, respondendo ao questionamento primário, podemos eliminar o perigo.
Como deve ser feito?
Na opinião de Simone Siqueira, agente técnica de Segurança e Saúde do Trabalho na Landsea Group:
“A punição é a ação final. O essencial é que seja trabalhado o comportamento através de acompanhamento e orientação, caso o colaborador seja reativo, será passível de punição”.
Comunicação aberta, foco na melhoria contínua e compromisso de criar um ambiente seguro para todos os funcionários são os pilares que sustentam essa visão. Aqui a participação dos trabalhadores, é o principal agente como multiplicadores da cultura de segurança do trabalho.
O conceito conhecido como estágio de maturidade interdependente elaborado pela DuPont, multinacional americana, é o estágio em que as pessoas influenciam e cuidam umas das outras em coexistência com resultados eficientes.
Acidentes e Segurança de Trabalho no setor Portuário
Em um estudo realizado pela Secretaria de Inspeção do Trabalho em 2019, foi observado que o estado do Espírito Santo ocupa a sétima posição no ranking de acidentes atípicos e adoecimentos ocupacionais. No mesmo ano, foram detectadas 419 irregularidades relacionadas a NR 29, representando 20% das infrações observadas no setor portuário.
Segundo Sérgio César de Moraes, Trabalhador portuário pela LandSea Group e com mais de 30 anos de experiência no setor:
“A resistência em relação ao uso de EPI’S e conduta segura por parte do trabalhador portuário pode ter sido uma consequência da implementação tardia da NR 29 e Segurança do trabalho no setor portuário”.
As estatísticas apontam para essa resistência comentada por Sérgio.
A necessidade de criação de um texto de normas de segurança e saúde no trabalho para se aplicar na atividade portuária já havia sido detectada desde a década de 80, mas apenas foi publicada em 17 de dezembro de 1997. Em contrapartida ele diz que o cenário tem mostrado melhora com a novas abordagens sobre o tema:
“Melhorou muito! Porque hoje existem os treinamentos que são dados pela empresa e as integrações realizadas pelos terminais. Hoje, abre-se mais a mente dos trabalhadores, então as organizações têm feito o mapeamento de risco e orientação de conduta antes das operações.
“Ninguém quer se machucar”, acrescenta ele.
Intervenções e abordagem
É imprescindível entender que essa visão deve ser um dos valores primordiais da empresa principalmente em posições de liderança, pois seu lugar de destaque os tornam exemplos.
Para a Fundacentro, o maior entrave na aplicação da NR 29 continua sendo a forma de gestão da segurança na área portuária. O objetivo do estabelecimento da cultura de segurança é estender seu alcance protetivo a todos os trabalhos envolvidos nesse setor, tanto a bordo como em terra.
O que temos feito para mudar essa realidade?
- Reunião diária de segurança (RDS)
São as conversas temáticas e dirigidas que focam na prevenção de acidentes e doenças ocupacionais.
- Análise preliminar de risco (APR)
Aqui é onde é feito o mapeamento de risco e orientado aos trabalhadores, varia de acordo com o porto e as operações. Nessa etapa é onde é instruído aos colaboradores sobre a norma de conduta e o processo detalhado da operação.
- Treinamento Periódicos
Os temas abordados são normas regulamentadoras e temas de conscientização. Previamente nesta semana foi compartilhado a bateria de palestras para o combate às Drogas e Álcool até as regras de ouro dos Portos que atendemos.
- Acompanhamento constante
São as conhecidas visitas técnicas onde o técnico de segurança vai ao local das operações e faz a vistoria das condutas e do uso correto dos equipamentos de proteção individual.
O fato é que o agente beneficiário principal desta conjuntura é o ser humano, nas suas diversas funções dentro da organização da empresa. O valor à vida e qualidade dela, o árduo trabalho em tornar isso notório é compromisso tanto do patronato quanto do operador portuário. Aumentando as percepção dos riscos e sobre medidas de prevenção, juntos alcançaremos um ambiente mais seguro e o resultado disso será maior produtividade elevando a eficiência do mercado.
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